Quarto maior território do Paraná, delegado cumpre mandados de prisão, busca e apreensão sozinho, está há meio ano sem viatura para área rural e se reveza com um investigador para cuidar de 86 presos.
Falta de delegados, investigadores, escrivães, péssima estrutura e 10 mil presos em carceragens de delegacias de polícia tem sido constantemente denunciadas pela Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol-PR). No entanto, a situação do delegado de Ortigueira chamou a atenção da entidade.
Diagnosticado com síndrome do pânico, o delegado Rafael Bacelar, 32 anos, há dois na função, teve que impedir, sozinho, três tentativas de fuga da carceragem da delegacia de Ortigueira, somente neste ano. A quarta tentativa aconteceu na madrugada de sábado (03), quando havia somente um investigador de plantão. O detento tentou matar o investigador com um estoque, objeto perfurante fabricado pelos próprios presos. O investigador não sofreu ferimentos graves, mas também está passando por distúrbios psicológicos após sucessivos ataques dos presos.
O homem que tentou matar o investigador no momento da fuga, foi preso por Bacelar há duas semanas. O jovem delegado teve que arrombar a residência e entrar sozinho para tentar localizar o homem que após assassinar a esposa, dormiu dois dias ao lado do corpo. Ele também matou a prima a golpe de marreta e facadas e estuprou a sobrinha de 11 anos com coito anal. “Uma pessoa de alta periculosidade, que não mede as consequências de seus atos e eu tive que entrar sozinho porque se o policial fosse me acompanhar, os 86 presos ficariam sem vigilância na delegacia. Fiquei oito meses cumprindo diligências sem colete à prova de balas e com uma arma com calibre muito abaixo das que são utilizadas pelos bandidos”, contou Bacelar.
“É inadmissível que um delegado de polícia tenha que arriscar a vida dessa forma por descaso do Governo do Estado que há oito anos não cumpre as promessas feitas para equipar a Polícia Civil e repor o efetivo, defasado em mais de 50%, afirmou João Ricardo Képes Noronha”, presidente da Adepol-PR.
Ortigueira é o quarto maior território do Paraná, com uma área de mais de 2,4 mil km². No entanto, a pequena população de 23.500 habitantes sofre com índices de violência incomuns para cidades desse porte. De acordo com Bacelar, a maior parte das ocorrências são de assalto a carro forte, explosão de caixas eletrônicos, homicídios, latrocínios, conflitos agrários e todo o tipo de crimes cometidos por indígenas, como sequestro e estupro. Tanto o delegado quanto os investigadores têm sofrido diversas ameaças de morte.
A única camionete da delegacia com tração 4×4 está na oficina faz seis meses aguardando por conserto. Segundo Bacelar, 99% do município é de estrada de terra. A empresa JMK, responsável pelos consertos, alega que o Governo do Estado não repassa o dinheiro. O Governo, por sua vez, afirma que os pagamentos estão em dia.
Nesta terça (05), aconteceu mais um assalto à mão armada na Agência dos Correios de Ortigueira. Os assaltantes fizeram funcionários e clientes de reféns, houve troca de tiros com a PM na frente da agência. O carro do gerente da agência foi utilizado na fuga com dois reféns. Eles foram abandonados a 10 km da agência. Os presos ainda não foram localizados.