Ontem tivemos mais um triste episódio de ataque às crianças. Desta vez, o lastimável fato ocorreu em Annecy, França, e o agressor, usando uma faca, feriu 4 crianças de 3 anos e 2 adultos, até ser interrompido por um jovem sírio de 24 anos que está sendo chamado de “herói da mochila”.
Recentemente tivemos um atentado na cidade de Blumenau-SC que culminou na morte de 4 crianças, assassinadas a machadadas.
O que temos visto é o que chamo de “loucura seletiva”… por que esses agressores não invadem a sede do BOPE, do COPE, do Exército, com uma faca ou uma pistola na mão e tenta praticar algum mal?! Por que eles procuram as pessoas indefesas, geralmente crianças e pessoas em situação de lazer (como o assassino que disparou milhares de tiros no festival de música em Las Vegas em 2017, causando a morte de 58 pessoas e ferindo cerca de 500!), e ainda tem a audácia de alegar “insanidade” no momento da prisão e ao longo do processo.
Por que essa suposta insanidade é sempre para o mal?? Nesses vários anos atuando como Delegado de Polícia, nunca vi uma loucura em que a pessoas cortasse a grama do vizinho, fizesse um café num momento de “surto”!! É sempre voltado para a prática de crimes graves, contra pessoas indefesas e inocentes.
Está na hora da sociedade (não apenas a brasileira) parar de tratar criminoso – notadamente os covardes – como coitadinhos… as vítimas são as pessoas mortas, feridas, traumatizadas, bem como seus parentes… pois é, poucos lembram que o crime afeta toda a família da vítima e muda sua vida (quando lhe resta o dom da vida!).
Infelizmente volto a abordar o tema de violência nas escolas… segunda-feira tivemos o segundo caso em 5 anos no Estado do Paraná de agressor ativo em uma escola (o outro caso foi em Medianeira em 2018, com dois feridos), na cidade de Cambé. Mas, dessa vez, houve o triste desfecho de dois assassinatos, dois adolescentes inocentes que foram mortos por um covarde, apoiado por outros covardes inconsequentes.
Mais uma vez, boa parte da imprensa questiona as forças de segurança sobre o fato e como prevenir outras lastimáveis ocorrências dessa natureza. E a triste realidade é que a Polícia vem perdendo espaço, força, respeito, respaldo e estrutura ao longo das últimas décadas… todos cobram uma ação policial quando ocorre um delito, mas ninguém se lembra de como as instituições de segurança pública tem sofrido com o descaso da sociedade.
A Polícia não pode sequer abordar uma pessoa na rua (tema para outro texto), um veículo em via pública, cada vez mais vemos pessoas reagirem às prisões ou intervenções dos policiais e guardas municipais, tentando tomar suas armas, arremessando pedras, atirando, ofendendo, filmando em vez de tentar ajudar um profissional que arrisca sua vida pelos outros.
Enfim, como podemos nos prevenir das pessoas que sofrem da “loucura seletiva” (sujeitos que atacam vítimas indefesas, como crianças em escolas, pessoas no cinema, famílias no parque, e alegam que estavam com algum tipo de distúrbio mental, mas sempre para a prática de atos repletos de maldade)??
Com inteligência policial, trabalho de prevenção, ferramentas de acompanhamento de redes sociais, monitoramento de deepweb, câmeras dotadas de tecnologia com reconhecimento facial e reconhecimento de objetos, integração dos bancos de dados, limitações físicas/arquitetônicas nas escolas, criação de protocolos para os envolvidos (fugir, esconder, lutar) e treinamento de todos (professores, alunos etc)
Óbvio que um sujeito que planeja um ataque a uma escola (ou a qualquer outra instituição), vê vídeos em aplicativos, busca informações na internet, comenta com alguém, ou seja, deixa algum rastro… o problema é que as limitações impostas pelos tribunais superiores e pela legislação praticamente impedem a Polícia de fazer isso, não se pode usar de ferramentas e soluções existentes no mercado e utilizadas em outros países… enquanto isso, a população fica cada vez mais acuada ao passo que os criminosos tem mais direitos e garantias.
Por: Delegado Guilherme Rangel
FONTE: https://folhadecuritiba.com.br/2023/06/10/loucura-seletiva-por-delegado-guilherme-rangel/