Presos da delegacia da 5ª Subdivisão Policial de Pato Branco, no sudoeste do Paraná, se rebelaram nesta sexta-feira (25). De acordo com a Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (ADEPOL), os detidos quebraram paredes da delegacia e durante uma tentativa de negociação, o delegado-chefe Getúlio de Morais Vargas, acabou sendo agredido com água quente pelos detentos. Além do delegado, dois agentes foram atingidos e um deles teve o dedo fraturado. Apesar disso, continuaram trabalhando.
A quadra foi interditada pela Polícia Militar a pedido do delegado Vargas. Ele temia que houvesse fuga. A delegacia fica no centro da cidade, vizinha de posto de saúde, comércio e escolas. A situação foi contida Às 14h30.
A ADEPOL informou que o motim começou por volta das 11h, quando os presos se recusaram a sair das celas para o banho de sol no pátio. Eles cobriram as câmeras de monitoramento do local e quebraram paredes. Alguns presos, acusados por crimes sexuais, que ficavam numa ala separada, foram feitos de reféns, sendo que um teve duas costelas quebradas e outros ficaram com ferimentos leves.
De acordo com a ADEPOL, a principal causa do motim foi a superlotação da carceragem, projetada para 44 presos, mas estava com 209, ou seja, com mais de 500% acima da capacidade. Desses, 100 já foram condenados e outros 40 progrediram para o regime semiaberto – todos já deveriam ter sido transferidos. A carceragem Já chegou a ter 252 detentos. Há ainda a ala dos adolescentes infratores, com 28 internos. A 5ª Subdivisão Policial de Pato Branco atende a sete comarcas e abriga presos de 12 municípios, com exceção de Palmas cuja carceragem tem 70 presos.
Ainda conforme relato da ADEPOL, essa situação precária foi exaustivamente informada ao Governo do Estado, poder Judiciário, Ministério Público, OAB, prefeitura e Câmara de Vereadores da cidade. Nenhuma providência foi tomada. Trabalham neste local, dois delegados, quatro escrivães, oito investigadores e sete agentes de cadeia. Os delegados trabalham em escala de 24h consecutivas e descansam outro dia.
Pedro Filipe de Andrade, diretor jurídico da ADEPOL denuncia o colapso da situação das carceragens de delegacias no Paraná. O Estado é o único no Brasil a abrigar presos já condenados em delegacias, que foram transformadas em presídios improvisados e precários. Há cerca de dez mil presos em carceragens de delegacias. Do início do ano até agora, já foram registradas cerca de mil fugas.
“Não podemos mais suportar essa situação de insegurança tanto para os trabalhadores da Polícia Civil como para a sociedade. Delegados e policiais que estão desviados de suas funções, sem nenhum preparo para cuidar de presos, deixam de atuar na elucidação de crimes para vigiar presos 24 horas por dia. O resultado desse descaso do Governo do Paraná é que a sociedade está sujeita à impunidade e ao aumento da violência”, afirmou Andrade.
Sessenta presos, incluindo dez mulheres, foram transferidos do cadeião da 5ª SDP e serão levados para o Centro de Detenção de Francisco Beltrão, Barracão e Foz do Iguaçu.
Das dez celas, com quatro camas cada, oito ficaram totalmente destruídas. Os canos foram perfurados e estão com vazamentos contínuos de água. Os presos dormem no pátio até que a carceragem seja reparada.
“O Governo do Estado exibe que possui um sistema penitenciário considerado modelo, sem superlotação, com vagas de reserva. No entanto, não menciona que só consegue isso porque usa as delegacias de Polícia como presídios. Essas rebeliões são constantes e tendem a aumentar colocando toda sociedade em risco. Não adianta medidas paliativas como mutirões carcerários, liberando presos com tornozeleiras ou transferindo de uma delegacia pra outra. A única medida que resolve o problema é a construção de novos presídios, em áreas mais afastadas”, disse Andrade.
Iporã
Também na tarde desta sexta-feira (25), outra rebelião de presos ocorreu em Iporã, no noroeste do Paraná. Um agente da Delegacia foi feito refém. Segundo a ADEPOL, o funcionário foi rendido quando voltava com os presos do pátio para as celas. Ele foi agredido e por pouco não foi assassinado.
Vejam como ficaram as celas da 5ª SDP, após a rebelião. Imagens gravadas e cedidas pela ADEPOL.